segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Viagem de descoberta

“A verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos.”

(Marcel Proust)


O complexo processo de ensino-aprendizagem se tornou prazeroso nas aulas de Mídia e Poder. Vivenciamos um ambiente alegre, agradável, de relacionamentos saudáveis, sob a liderança de um professor que desempenha muito bem seu papel de mediador na construção do conhecimento. A teoria e a prática caminharam juntas, o que facilitou a aprendizagem. Os conceitos trabalhados foram contextualizados, possibilitando a reflexão sobre os temas estudados e sua interferência em nosso meio e nos oferecendo suporte para possíveis intervenções nossas nesse meio.

Aprendi muito com os colegas e suas considerações, com os relatos de suas experiências, com os seminários apresentados, todos muito criativos.


“Admirável Mundo Novo” me fez refletir sobre as relações entre aquele mundo, visualizado por Aldous Huxley e a sociedade atual. O que seria o “soma” em nossos dias? É necessário pensar sobre isso.


Com “1984” aprendi, entre outras coisas, a origem do termo “Big Brother” e pude verificar suas implicações ao fazer sua contextualização nos dias de hoje. Repito e endosso a frase que Winston escreve: “Abaixo o Big Brother!”


“Cidadão Kane” me ensinou muito. Fiquei impressionada ao constatar tamanha semelhança entre o protagonista do filme e aquele “magnata da mídia brasileira” que começou a construir seu império aos 21 anos. (uma colega jornalista me disse que não é recomendável citar nomes)


“A Montanha dos Sete Abutres”, produzido e dirigido por Billy Wilder, em 1951, foi o tema do seminário apresentado por meu grupo. O filme conta a história de um jornalista sem escrúpulos, desacreditado, que, objetivando retornar aos grandes centros, faz uso de seus conhecimentos de manipulação para transformar um fato particular (um homem preso num soterramento), um mini-drama humano, em uma comoção nacional, um verdadeiro espetáculo que atrai milhares de pessoas do país para o local. Seu plano falha quando a situação foge de seu controle e a vítima morre.
Conforme a abordagem que adotamos, a da espetacularização da notícia e da metáfora do Pão e Circo, constatamos que o filme permanece atualizadíssimo e que o poder que a mídia exerce é incontestável, representando realmente o “quarto poder”.

Como já mencionei, o papel do professor foi fundamental. Como mediador, organizou os saberes, viabilizou oportunidades de interação, forneceu fundamentos teóricos para discussão de fatos reais e concretos. De forma agradável, despertou em nós a vontade de conhecer, de aprender. Mais que tudo, trouxe-nos lições para a vida.

“A tarefa essencial do professor é despertar a alegria de trabalhar e de conhecer.”
(Albert Einstein)

OBRIGADA, PROFESSOR DIMAS!






Meus primeiros passos


No processo de escolha de disciplina para este 2º semestre de 2008, ao procurar informações sobre Mídia e Poder, soube que um dos mecanismos de avaliação seria o blog. Fiquei, ao mesmo tempo, receosa e curiosa. Vi aí uma boa oportunidade para aprender algo totalmente novo para mim e aceitei o desafio.

Apesar das dificuldades, como falta de conhecimento técnico nesta área, o que me impôs grande limitação, este blog constitui uma experiência marcante, muito enriquecedora, que abre várias possibilidades de crescimento individual e coletivo. São meus primeiros passos como blogueira. Num constante processo de tentativa e erro, cada acerto, por mínimo que fosse, era para mim uma grande conquista.
Como consta no meu perfil, sou diretora de uma escola pública estadual de ensino médio e pretendo levar esta experiência para lá, apresentando o blog não só como ferramenta de avaliação, mas também de interação, como espaço de aprendizagem compartilhado.

“Nunca é tarde para tentar o desconhecido. Nunca é tarde para ir mais além.”
(Gabriele D’Annunzio)


Trouxeste a chave?




“Chega mais perto e contempla as palavras.Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?”

(Carlos Drummond de Andrade)
Como Drummond, que não espera encontrar uma “receita” pronta para a composição da poesia, assim eu me vejo diante deste curso de pós-graduação. As disciplinas que já cursei ampliaram muito meu conhecimento e me ofereceram fundamentos para as minhas reflexões, não só acerca do mundo da Comunicação, mas sobre minha visão geral de mundo.
Além disso, Mídia e Poder, principalmente, me ensinou a não esperar respostas para todas as perguntas, a ponderar sobre pontos de vista diferentes, a refletir sobre o mundo a partir de perspectivas diversas, muitas vezes até contraditórias.
Essa é a chave que preciso para novas descobertas.

Mudando o foco




A mídia é realmente especialista em manipular informações, alterando o foco das notícias conforme lhe convém. Para se obter maior audiência, apela-se para o emocional, distorcem-se imagens, cria-se o espetáculo para atrair o público. Enquanto isso, a verdade sobre os fatos é desconsiderada, não há espaço para reflexão.

Foi isso que aconteceu (como sempre) na cobertura do lamentável episódio ocorrido, no mês de novembro, na Escola Estadual Amadeu Amaral, no bairro do Belém, em São Paulo. Enquanto mostrava incessantemente as imagens da escola, totalmente destruída pela ação de vandalismo de um grupo de alunos, a mídia enfatizava a ação da polícia (chamada para conter aquela rebelião), induzindo a população a julgar que fora exagerada a ação policial sobre aquelas “crianças”. Jornais e telejornais reproduziam esse questionamento, enquanto temas ligados à causa desse tipo de ocorrência, como violência social, tráfico de drogas e de armas, inversão de valores, desestrutura familiar, políticas públicas e outros, eram desprezados (e até evitados). Seria o momento de a sociedade parar e refletir sobre esses problemas, que se agravam a cada dia. Mas, programas que promovam momentos de reflexão não dão audiência, não é mesmo?




Encontrei um único artigo que foge um pouco a essa mesmice, o qual segue transcrito abaixo.

Escola do crime

É melhor declarar a falência do ensino público e lacrar de vez os portões de todas as escolas do Estado de São Paulo

BARBARA GANCIA

A pesquisa sobre violência nas escolas públicas feita pela Udemo (Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado de SP) de que falou ontem este caderno Cotidiano deveria ter feito pais, professores e administradores públicos passarem a noite em claro. Os números são coisa de filme de terror.



À pergunta "a escola sofreu algum tipo de violência em 2007?", 86% dos entrevistados responderam sim. Mais da metade das escolas já foi vítima de depredação, pichação ou dano a veículo de professor e, em 38% dos locais avaliados, houve registros de explosão de bombas. Brigas envolvendo agressão física entre estudantes ocorreram em 85% das instituições, e o desacato a mestres, funcionários ou à direção, em nada menos do que 88% das escolas. Ou seja, de cada dez escolas consultadas, pouco mais de uma parece estar conseguindo manter a ordem. Não sou lá grande intérprete de estatísticas, mas se os números são realmente esses, a menos que os professores sejam todos uns chorões -o que não parece ser o caso-, é melhor declarar a falência do ensino público e lacrar de vez os portões de todas as escolas do Estado de SP.



A Secretaria Estadual da Educação classificou de "caso atípico" a ocorrência policial na escola Amadeu Amaral, no bairro do Belém, na zona leste, em que uma briga entre duas alunas serviu de estopim para o caos e a destruição da escola promovidos por 30 alunos. Gostaria de saber o que pensam os mestres e funcionários de outras escolas públicas, obrigados a enfrentar as bestas-feras todos os dias, sobre a "atipicidade" do ocorrido.



A baderna que se viu na Amadeu Amaral é o tipo de insubordinação que se vê diariamente. E que simplesmente reflete o que acontece do lado de fora da instituição de ensino. A classe média não está minimamente interessada no assunto, mas a confusão foi promovida por jovens que se acostumaram a resolver contendas "no braço" com pais, professores, amigos e vizinhos. Eles não são melhores nem piores do que os adolescentes que vieram antes deles. Apenas imitam o comportamento que vêem ao seu redor, tomando para si o mesmo código de sobrevivência que vigora em todas as comunidades carentes em que a lei não se faz presente. Acertar contas ameaçando "furar" ou "encher de pipôco" pode não ser ocorrência comum entre os freqüentadores dos shopping centers, mas é conversa corriqueira nos bairros das periferias. E não é papo exclusivo dos meninos, não. Todo mundo é obrigado a ser durão, quem piscar primeiro leva. É o faroeste, e ele está bem aí ao seu lado.



Junte a isso pais que, mesmo tendo pouco, mimam sempre que lhes é dada a oportunidade, a figura paterna ausente, o comércio de drogas na porta de casa e a abundante oferta de armas de fogo, e você terá o ambiente que essa criançada encontra quando volta da escola. Esperar que, diante da autoridade do professor, eles se transformem em cordeirinhos é não enxergar que temos em mãos uma geração que se perdeu.



Mas, como a realidade é dura de enfrentar, melhor continuarmos a falar da ação da polícia na Amadeu Amaral, não é mesmo? A polícia, ao menos, já está acostumada a ser saco de pancada.

Fonte: Folha de São Paulo, 14/11/2008 - São Paulo SP

Efeito Big Brother



O tema O Grande Big Brother - Invasão de Privacidade foi a pauta da edição do Almanaque Educação, atração exibida pela TV Cultura, em 11de novembro passado,às 19h30min. O programa refletiu sobre a expressão "Grande Irmão", criada pelo escritor inglês George Orwell, em seu romance "1984".


No livro, o autor retrata um universo ficcional sobre o futuro: no ano de 1984 viveríamos em uma ditadura totalitária, na qual o Estado controlaria toda a sociedade por meio de filmadoras. Assim, podemos afirmar que ficção e realidade caminham de mãos dadas, já que cresce a cada dia o número de câmeras de segurança espalhadas nas grandes cidades. Mas será que esse monitoramento afeta algum direito da população?


Na Grande Reportagem do programa, o público conferiu uma matéria que mostra câmeras de vídeo em algumas escolas. Agora, os pais podem observar e até controlar o comportamento dos filhos, desde a sala de aula até as atividades recreativas e o convívio com professores e colegas. No quadro Minha Visão das Coisas, a atração mostrou a opinião do público sobre a profusão de câmeras espalhadas pela sociedade - ruas, elevadores, shoppings, supermercados, e seu impacto na individualidade. E no quadro Pequenas Histórias Particulares, uma detetive contou as aventuras de sua profissão.

A Trupe do programa é formada pelos personagens Azeitona (Fabiano Geuli), Dorinha (Melissa Nascimento), Suspiro (Ju Colombo), Chumbinho (Paulo Henrique Jordão) e Guri (Márcia Oliveira). A atração, uma parceria com a Secretaria de Estado da Educação / Fundação para o Desenvolvimento da Educação vai ao ar às terças, às 19h30, com reapresentação aos sábados, a partir das 11h30.

Olhos – Janela da Alma, Espelho do Mundo


"Não vês que o olho abraça a beleza do mundo inteiro? (...) É janela do corpo humano, por onde a alma especula e frui a beleza do mundo, aceitando a prisão do corpo que, sem esse poder, seria um tormento (...) Ó admirável necessidade! Quem acreditaria que um espaço tão reduzido seria capaz de absorver as imagens do universo? (...) O espírito do pintor deve fazer-se semelhante a um espelho que adota a cor do que se olha e se enche de tantas imagens quantas coisas tiver diante de si." (Leonardo da Vinci)

A respeito dos conflitos do ver e não ver, “Janela da Alma” (2001), um documentário de João Jardim e Walter Carvalho, apresenta-nos um belíssimo e rico trabalho sobre a visão.
A tese central é a de que a visão é construção cultural e não um dado da natureza, apenas fisiológico. Os autores recorreram à filosofia, à medicina, à biologia, à música, à literatura para investigar o que é a visão. Entrevistaram artistas, intelectuais e pessoas “comuns”, com graus de acuidade visual que vão da miopia à cegueira, os quais discorreram sobre ver, não ver e ver de maneira única, pessoal.
A relação de entrevistados é bem ampla e as abordagens e experiências relatadas são bastante diversificadas, pertinentes e interessantes. Acompanhando os relatos, segue-se um jogo de imagens que são focadas, desfocadas e refocadas, alterando a percepção do espectador. Não se desperdiça nada: fala, imagem ou silêncio.
Ao apresentar depoimentos de diversas pessoas com diferentes graus de deficiência visual, o filme mostra que é possível enxergar mesmo sem ver. Assim como existe a possibilidade de, num mundo poluído por imagens, não enxergar o que se vê a todo instante.
Entre os entrevistados, destacam-se os depoimentos do músico Hermeto Pascoal, cujos olhos não fixam, o filósofo e fotógrafo esloveno (e cego) Eugen Bavcar, esbanjando sensibilidade e qualidade em suas fotografias, ensinando que existe “o olhar que se constrói no mundo das trevas, no mundo das corujas, da sabedoria” e que “graças ao verbo, temos as imagens.” Win Wenders nos fala de nossa necessidade de história, de narrativas com fechamento, da possibilidade de inserir os sonhos, de imaginar entre linhas, processo prejudicado atualmente pelo excesso e velocidade de imagens. Arnaldo Godoy, um vereador de Belo Horizonte, conta com ótimo humor como é a vida sem ver. Seguem-se outros relatos igualmente interessantes, como da atriz alemã Hanna Schygulla, do poeta Manoel de Barros, da cineasta Agnes Varda, do neurologista e antropólogo Oliver Sacks, do escritor José Saramago, todos contando de forma bem autêntica como se vêem, como vêem os outros e como percebem o mundo.
José Saramago nos fala que somos todos cegos, cegos da razão, cegos da sensibilidade, vivendo num mundo de desigualdades. E mais, que em nenhuma outra época existiu tão intensamente como hoje a “caverna” de Platão, um mundo de superficialidade onde as imagens substituem a realidade e o excesso de informações produz a ignorância.

Mídia e a sociedade do espetáculo

Quero compartilhar com vocês um vídeo produzido pelo nosso grupo (os sete abutres), ao analisarmos o filme “A Montanha dos Sete Abutres” sob o foco da espetacularização da notícia:

"A Montanha dos Sete Abutres" e Floyd Collins

Gostaria de destacar um aspecto interessante do filme “A Montanha dos Sete Abutres”: é o fato de ele ter sido baseado em um caso real.
Trata-se de Floyd Collins, um famoso (e ambicioso) explorador de cavernas. Quando tentava encontrar nova entrada para Crystal Cave através da Sand Cave, em Kentucky, foi surpreendido por um soterramento, ficando preso por 18 dias, tendo sua morte pronunciada em 16 de fevereiro de 1925. O caso atraiu centenas de pessoas e repórteres de jornais de todo o país (1200 jornais cobriram o caso; New York Times abre 3 colunas na primeira página).
Um dos repórteres, Skeets Miller, do Courier Journal, entra na caverna e tenta tranqüilizar Floyd. Com isso, consegue informações e fotos exclusivas, o que lhe rende o Prêmio Pulitzer, que é oferecido a pessoas que realizam trabalhos de excelência em jornalismo, literatura e música, nos Estados Unidos.
Foram 15 dias rendendo notícias e boletins de rádio de hora em hora.
No filme, há uma cena em que Charles Tatum (personagem de Kirk Douglas), o protagonista, menciona a história de Floyd Collins, mostrando claramente sua intenção de obter sucesso e fama através da manipulação de dados e informações na construção da notícia, transformando um simples fato em um espetáculo.
Este caso inaugurou a “história de fundo humano” como produto da imprensa.
(Floyd Collins preso na caverna)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Efeitos da cultura McWorld



O século XX ficou conhecido como século do cinema, com o imperialismo das imagens em substituição à palavra impressa. O que se passa por "conhecimento" é comunicado à maioria das pessoas do mundo através do som e da imagem. Até os jornais procuram assumir formatos de TV. Olavo Bilac já previa: " Vem perto o dia em que soará para os escritores a hora do irreparável desastre e da derradeira desgraça.Nós, os rabiscadores de artigos e notícias, já sentimos que nos falta o solo debaixo dos pés...(...) O público tem pressa. A vida de hoje, vertiginosa e febril, não admite leituras demoradas, nem reflexões profundas." (Fotojornalismo, artigo publicado na Gazeta de Notícias em 13/01/1901) Em 1901!!!
Sobre o mesmo assunto, Benjamin Barber comenta que a abstração da linguagem é superada pela literalidade da imagem, trazendo sérios prejuízos ao homem: a imaginação se definha à medida que é menos solicitada; a comunidade vê enfraquecido seu elemento de coesão - a palavra; o bem comum é prejudicado porque depende das decisões coletivas de cidadãos conscientes, críticos, racionais, capazes de fazer uso da palavra impressa.
Essa questão está inserida em um contexto, ao qual Zygmunt Bauman denomina "modernidade líquida", onde se constitui uma espécie de "videologia", mais sutil que a ideologia tradicional, com o objetivo de seduzir, de insuflar valores que os mercados mundiais impõem. Um dos elementos dessa videologia é a MTV - Music Television Videos, a "alma barulhenta do McMundo", o maior shopping eletrônico do mundo, que existe exclusivamente como uma ferramenta de marketing da indústria fonográfica, fazendo desaparecer por completo a fronteira entre o entretenimento e a publicidade.
Mas o consumidor não nasce, é produzido. Para se exigir dos mercados uma verdadeira liberdade de escolha, os consumidores devem ter um bom nível de educação. Para isso, a escola pode usar a mídia como uma de suas ferramentas, desde que haja um esforço pedagógico claramente acertado, a fim de que a mídia incentive o aprendizado, a capacidade de crítica e não apenas o entretenimento. O consumo nos torna impulsivos e gananciosos. A educação desafia nossos impulsos e denuncia nossa ganância. No passado, esta obrigação era dos governos com responsabilidade de oferecer ensino público. Hoje, até o ensino público já virou mercadoria na cultura do McMundo!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Marcas: idéias internalizadas


"O processo de habitar aquela idéia, de tornar-se aquela idéia, é um processo enormemente transformador e predatório, em especial para jovens e para a cultura jovem, porque a marca exige a absorção constante de tudo o que tem significado e é novo em nossa cultura."
(Naomi Klein - Marcas globais e poder corporativo)

"Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia tão
diverso de outros, tão mim mesmo
(...)
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente."


Eu, etiqueta

Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.

Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
E nisto me comparo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.

Carlos Drummond de Andrade

Fugindo da espetacularização



Criança é jogada da janela do sexto andar! Na novela das oito? Não, nos jornais. Madrasta tenta afogar o afilhado de dez anos! Nos jornais? Não, na novela das oito.
É a arte que se mistura com o real. É a vida como um “reality-show”. São os efeitos da banalização que transforma a vida em espetáculo.Foi o que aconteceu com o caso Isabella Nardoni, explorado exaustivamente pela mídia.
Porém, fugindo a essa tendência de espetacularização, surge um artigo publicado na Folha de São Paulo, em 10 de abril de 2008, pelo colunista Contardo Calligaris, no qual ele analisa o caso a partir de considerações a respeito da família “moderna”.

Comoção pela morte de Isabella

A tragédia nos lembra afetos dolorosos que regram nossa maneira "moderna" de casar

HOJE, QUARTA-FEIRA, quando acabo esta coluna, não conhecemos os eventos que levaram à morte de Isabella Nardoni; só sabemos que a menina, de cinco anos, foi assassinada, intencionalmente ou não, enquanto estava na custódia do pai e da madrasta. E conhecemos um pouco a história da família: a mãe e o pai de Isabella não chegaram a se juntar -foi um romance adolescente que acabou antes de Isabella nascer. O pai tem dois filhos pequenos com sua mulher atual.

É uma situação trivial: a pensão mensal, as visitas, o padrasto ou a madrasta, os meio-irmãos etc. Mas a banalidade dessa situação não deveria disfarçar o emaranhado de afetos dolorosos que ela produz -afetos que muitos vivem e que todos preferimos esquecer.

Não sei se esses afetos são responsáveis pela morte de Isabella. Mas talvez eles sejam responsáveis pela extraordinária comoção produzida pela sua morte. Como assim?

A morte violenta de uma criança nos fere a todos: é como se, ao mesmo tempo, alguém nos arrancasse um pedaço de nosso próprio futuro e destruísse a fantasia nostálgica da infância, que sempre cultivamos, mesmo que o primeiro período de nossa vida tenha sido infeliz.

Mas a história de Isabella nos comove também por outra razão: as tentativas de "explicar" o acontecido evocam, inevitavelmente, as dificuldades de nossa maneira "moderna" de casar.

São dificuldades nas quais, em geral, preferimos evitar de pensar.

É comum que o marido ou a mulher (às vezes, ambos) levem para o casamento filhos que são frutos de uma relação anterior. Espera-se que isso aconteça sem complicação: afinal, se descasamos e casamos por amor, por que o mesmo amor não reinaria pelo lar todo? Pois é, o amor é uma coisa complicada. Exemplos.

A rivalidade, que sempre existe entre irmãos, vinga entre enteados e meio-irmãos. E vinga redobrada, justamente por ser mais inconfessável do que a rivalidade entre irmãos -por ser silenciosa, reprimida pelo esforço geral de compor uma nova família ideal, em que todos os integrantes se amariam.

Na nova família, à primeira vista, o homem convive com seus enteados melhor do que a mulher. Não é nenhum milagre do "instinto" paterno: o homem encontra uma satisfação narcisista no exercício da paternidade. Ele, aliás, curte ser e se sentir amado por suas qualidades "paternas". Pare ele, saber ser pai de filhos e enteados faz parte de uma virilidade que ele quer que seja reconhecida e festejada pela mulher.

Mas cuidado: a encenação da paternidade, embora às vezes espalhafatosa, não resiste à pressão da culpa de dar para seus filhos de sangue menos do que para seus enteados.

Essa culpa, envergonhada e reprimida, é inevitável, porque há uma coisa que o homem, na grande maioria dos casos, dá mais aos enteados do que aos filhos: sua própria presença no lar.

A mulher, ao contrário, vive quase sempre uma rivalidade dramática com seus enteados: compete com eles como se ela fosse mais uma filha. Para a mulher, o enteado ou a enteada não usurpam o lugar dos filhos que ela trouxe de um casamento anterior, nem o lugar dos filhos que nasceram no novo casamento: eles ameaçam usurpar o próprio lugar dela. Essa rivalidade, escondida, expressa-se de maneiras travessas: por exemplo, numa crítica assídua das manifestações do afeto paterno do homem para com o filho ou a filha dele. Ou seja, para não admitir um ciúme envergonhado do enteado, a mulher censura o "excesso" dos sentimentos paternos do marido. Esse, criticado como pai, sente-se diminuído como homem. O desastre está às portas.

São apenas exemplos. O casamento "moderno" é um nó de afetos reprimidos, uma convivência explosiva que aposta no amor do casal como se fosse remédio para todos os males.

Não se trata de condenar a idéia de que seja possível refazer sua vida com outro ou outra e, nessa ocasião, levar consigo os filhos dos casamentos anteriores. Mas seria melhor que a gente se engajasse nesses projetos sem a ilusão de que os bons sentimentos prevalecerão por conta própria. Seria melhor, para começar, que nossas disposições menos nobres, em vez de silenciadas e reprimidas, fossem faladas, explicitadas. Isso, para evitar que, de vez em quando, a trágica morte de uma menina nos lembre, por um dia ou uma semana, que a vida das famílias "modernas" é muito mais difícil do que parece.

CONTARDO CALLIGARIS é psicanalista, doutor em psicologia clínica e colunista da Folha de São Paulo. Italiano, hoje vive e clinica entre Nova York e São Paulo.

sábado, 1 de novembro de 2008

O que é um bom jingle?

O que é um bom jingle? Bons jingles são aqueles que contribuem para eleger um candidato? E o que dizer sobre o “Ei, ei, ei Eimael”, que não sai da cabeça das pessoas e, no entanto, seu candidato nunca foi eleito? Não se pode medir cientificamente a eficácia de um jingle na complexidade da campanha eleitoral, porém, podemos afirmar que ele constitui uma poderosa ferramenta midiática, capaz sim de influenciar a opinião pública. Quanto à pergunta inicial, o publicitário Washington Olivetto nos responde: “jingle bom é aquele chiclete de ouvido”. Por outro lado, Hilton Acioli, autor do conhecido “Lula lá”, alerta: “música ruim também gruda e pode irritar o eleitor; aí fica uma coisa repetitiva, chata; as pessoas gravam, mas ficam com raiva”. É esse o assunto da reportagem da Folha Online, de 27/08/08, “Jingle pode tanto atrair como irritar eleitor”. Veja o vídeo.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Os sete abutres


Fatima, Rafaela, Fernando, Solange, Lígia, Renata e Caroline - sete simpáticos "abutres" que se uniram com o objetivo de compartilhar conhecimentos e desenvolverem trabalhos em comum.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

"Complexus"

Olá, meu nome é Fátima e Colla é meu sobrenome. Este é um blog acadêmico, instrumento de avaliação da disciplina Mídia e poder, do curso de Pós-graduação Lato sensu em Comunicação Social, da Faculdade Cásper Líbero.
É um espaço que se destina ao compartilhamento de conteúdos, idéias e conceitos relacionados ao tema “mídia e poder”.
Pretendo propor neste blog uma posição que não seja nem apocalíptica nem integrada, mas uma postura “complexa”, no sentido etimológico da palavra – complexus = que une saberes. Proponho a riqueza de pontos-de-vista em vez do conceito “engessado”. “Por um pensamento que junta, que une o que está separado, que promove a dialogia dos saberes.” (Edgar Morin)