O século XX ficou conhecido como século do cinema, com o imperialismo das imagens em substituição à palavra impressa. O que se passa por "conhecimento" é comunicado à maioria das pessoas do mundo através do som e da imagem. Até os jornais procuram assumir formatos de TV. Olavo Bilac já previa:
" Vem perto o dia em que soará para os escritores a hora do irreparável desastre e da derradeira desgraça.Nós, os rabiscadores de artigos e notícias, já sentimos que nos falta o solo debaixo dos pés...(...) O público tem pressa. A vida de hoje, vertiginosa e febril, não admite leituras demoradas, nem reflexões profundas." (Fotojornalismo, artigo publicado na Gazeta de Notícias em 13/01/1901) Em 1901!!!
Sobre o mesmo assunto, Benjamin Barber comenta que a abstração da linguagem é superada pela literalidade da imagem, trazendo sérios prejuízos ao homem: a imaginação se definha à medida que é menos solicitada; a comunidade vê enfraquecido seu elemento de coesão - a palavra; o bem comum é prejudicado porque depende das decisões coletivas de cidadãos conscientes, críticos, racionais, capazes de fazer uso da palavra impressa.
Essa questão está inserida em um contexto, ao qual Zygmunt Bauman denomina "modernidade líquida", onde se constitui uma espécie de "videologia", mais sutil que a ideologia tradicional, com o objetivo de seduzir, de insuflar valores que os mercados mundiais impõem. Um dos elementos dessa videologia é a MTV - Music Television Videos, a "alma barulhenta do McMundo", o maior shopping eletrônico do mundo, que existe exclusivamente como uma ferramenta de marketing da indústria fonográfica, fazendo desaparecer por completo a fronteira entre o entretenimento e a publicidade.
Mas o consumidor não nasce, é produzido. Para se exigir dos mercados uma verdadeira liberdade de escolha, os consumidores devem ter um bom nível de educação. Para isso, a escola pode usar a mídia como uma de suas ferramentas, desde que haja um esforço pedagógico claramente acertado, a fim de que a mídia incentive o aprendizado, a capacidade de crítica e não apenas o entretenimento. O consumo nos torna impulsivos e gananciosos. A educação desafia nossos impulsos e denuncia nossa ganância. No passado, esta obrigação era dos governos com responsabilidade de oferecer ensino público. Hoje, até o ensino público já virou mercadoria na cultura do McMundo!
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